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Raul Seixas




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Raul Seixas Album


Metrô Linha 743 (1984)
1984
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
O Trem das Sete
10.
. . .


Ele ia andando pela rua meio apressado
Ele sabia que tava sendo vigiado
Cheguei para ele e disse: „Ei amigo, você pode me ceder um cigarro?“
Ele disse: „Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado
Dois homens fumando juntos pode ser muito arriscado!“
Disse: „O prato mais caro do melhor banquete é
O que se come cabeça de gente que pensa
E os canibais de cabeça descobrem aqueles que pensam
Porque quem pensa, pensa melhor parado!
„Desculpe minha pressa“, fingindo atrasado
„Trabalho em cartório mas sou escritor
Perdi minha pena nem sei qual foi o mês“ –
Metrô linha 743!!

O homem apressado me deixou e saiu voando
Aí eu me encostei num poste e fiquei fumando
Três outros chegaram com pistolas na mão
Um gritou: „Mão na cabeça malandro
Se não quiser levar chumbo quente nos cornos“
Eu disse: „Claro, pois não, mas o que é que eu fiz?
Se é documento eu tenho aqui... “
Outro disse: „Não interessa, pouco importa, fique aí!
Eu quero saber o que você estava pensando
Eu avalio o preço me baseando no nível mental
Que você anda por aí usando
E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando“
Minha cabeça caída, solta no chão
Eu vi meu corpo sem ela pela primeira e última vez –
Metrô linha 743

Jogaram minha cabeça oca no lixo da cozinha
Eu era agora um cérebro, um cérebro vivo à vinagrete
Meu cérebro logo pensou: „Que seja, mas nunca fui tiéte
Fui posto à mesa com mais dois
E eram três pratos raros, e foi o maitre que pôs
Senti horror ao ser comido com desejo por um senhor alinhado
Meu último pedaço, antes de ser engolido ainda pensou grilado:
„Quem será este desgraçado dono desta zorra tôda?
Já ta tudo armado, o jogo dos caçadores canibais
Mas o negócio é que dá muito bandeira
Dá bandeira demais meu Deus“
Cuidado brother, cuidado sábio senhor
É um conselho sério prá vocês
Eu morri e nem sei mesmo qual foi aquele mês –
Metrô linha 743!

. . .


Certa vez houve um homem
Comum, como um homem qualquer
Jogou pelada descalço
Cresceu e formou-se em ter fé
Mas nele havia algo estranho
Lembrava ter vivido outra vez
Em outros mundos distantes
E assim acreditando se fez
E acreditanto em si mesmo
Tornou-se o mais sábio entre os seus
E o povo pedindo milagres
Chamava esse homem de Deus

Há, quantas ilusões
Há, quantas ilusões
Nas luzes do arredor
Quantos segredos terá
Quantos segredos terá

E enquanto ele trabalhava
Na sua tarefa escolhida
A multidão se aglomerava
Perguntando o segredo da vida
E ele falou simplismente
Destino é a gente que faz
Quem faz o destino é a gente
Na mente de quem for capaz
E vendo o povo confuso
Que terrível, cada vez mais lhe seguia
Fugiu pra floresta sozinho
Pra Deus perguntar pra onde ia

Há, quantas ilusões
Há, quantas ilusões
Nas luzes do arredor
Quantos segredos terá
Quantos segredos terá

Mas foi sua própria voz que falou
Seja feita a sua vontade
Siga o seu próprio caminho
Pra ser feliz de verdade
E aquela voz foi ouvida
Por sobre morros e vales
Ante ao messias de fato
Que jamais quis ser adorado
Que jamais quis ser adorado

Há, quantas ilusões
Há, quantas ilusões
Nas luzes do arredor
Quantos segredos terá
Quantos segredos terá

. . .


Nada mais é coerente
Se virar de trás pra frente
Tanto fez como tanto faz

Já experimente a casa inteira
E não achei um lugar pro meu piano

Entra ano e sai ano
Não cogito em fazer planos

E eu só gostei do quadro que não pintei!
Lá pras três da madrugada
A síndica embriagada
Resolveu escancarar

Numa briga com o marido
Num acorde sustenido
E o meu piano fora do lugar

Haja santo e haja vela
Mesmo assim a cinderela

Meia-noite vai desencantar

Desencantar!
Cinderela
Cinderela
Cinderela

Bota meu piano no lugar
No lugar
Eis que a noite se fez dia
E eu naquela agonia
Vi pela janela um velho entrar

Se dizendo faxineiro
Um "expert" em banheiro
Pra meu piano afinar
E aos trancos e barrancos
Vasculhei todos os cantos

E o meu piano sempre fora do lugar
Do lugar

. . .


Dizendo a verdade
Somente a verdade
Dizendo a verdade
Somente a verdade

Essa vã criatura indecisa no mal
Indecisa no bem
Sempre buscando venturas
E sempre à procura das dores também
Com todos os desejos, pecados, receios
Rancor e arquejos
Do animal que gargalha
E traz na boca rugidos e beijos

Mas, dizendo a verdade
Somente a verdade
Dizendo a verdade
Somente a verdade

Esse gênio esboçado
Essa criança louca
Esse filho da dor
Que foi capaz de erguer do lodo
Uma voz rouca e um canto de amor
Enquanto geme e chora
Mata e mente, acusa e defende
Deixa ficar pra trás
Na sua jornada uma canção de glória

Dizendo a verdade
Somente a verdade
Dizendo a verdade
Somente a verdade

Quero ser o homem que sou
Sim, quero ser o homem que sou
Sim, quero ser o homem que sou

Mas, dizendo a verdade
Somente a verdade
Dizendo a verdade
Somente a verdade

Quero ser o homem que sou
Assim, da maneira que sou

Esse gênio esboçado
Essa criança louca
Esse filho da dor
Que foi capaz de erguer do lodo
Uma voz rouca e um canto de amor
Enquanto geme e chora
Mata e mente, acusa e defende
Deixa ficar pra trás
Na sua jornada uma canção de glória

Mas, dizendo a verdade
Somente a verdade
Dizendo a verdade
Somente a verdade

. . .


Lá vai o vento
Brasil adentro
Lá vai o vento
Brasil adentro

Vento, vento zangado
Desmancha os cabelos da velha do lado
Sopra teu longo assovio
E brinca de roda com quem tá parado!

Lá vai o vento
Brasil adentro
Lá vai o vento
Brasil adentro

Vai, arrasta a chuva
Assanha estas nuvens de tempestade
Mas sopra doce o teu sopro
No rosto do moço que fala a verdade

Lá vai o vento
Brasil adentro
Lá vai o vento
Brasil adentro

Dos anjos da luz
Das bestas sua igualha
Dos anjos da luz
Das bestas sua igualha

Vento que venta cantando
Embala as palmeiras na beira do mar
Conta a história das matas
Do verde das terras do lado de cá

Assopra e faz ventania
De noite ou de dia
Trazendo recados
Vento que varre os sertões
Levando notícias
Não fica calado

Dos anjos sua luz
Das bestas sua igualha
Dos anjos da luz
Das bestas sua igualha

Lá vai o vento
Brasil adentro
Lá vai o vento
Brasil adentro

. . .


Spoken:
Larga dessa cantoria menino
Música não vai levar você lugar nenhum

Peraí mamãe, güenta aí

Mamãe, eu não queria
Mamãe, eu não queria
Mamãe, eu não queria
Servir o exército

Não quero bater continência
(Lá-lá-lá-lá)
Nem pra sargento, cabo ou capitão
(Lá-lá-lá-lá)
Nem quero ser sentinela, mamãe
Que nem cachorro vigiando o portão
Não!

Mamãe, eu não queria
Mamãe, eu não queria

Desculpe, Vossa Excelência
A falta de um pistolão
É que meu velho é soldado
E minha mãe pertence ao Exército de Salvação
Não!

Marcha soldado, cabeça de papel
Se não marchar direito vai preso pro quartel

Sei que é uma bela carreira
Mas não tenho a menor vocação
Se fosse tão bom assim mainha
Não seria imposição
Não!

Mamãe, eu não queria
Mamãe, eu não queria
Não, não, não
Servir o exército

Spoken:
Você sabe muito bem que é obrigatório
E além do mais você tem que cumprir
com seu dever com orgulho

Mamãe eu não queria

Spoken:
Você sabe muito bem que é obrigatório
E além do mais você tem que cumprir
com seu dever com orgulho e dedicação

Mamãe eu morreria

Spoken:
Pela causa meu filho, pela causa

Mamãe eu não queria

Spoken:
Mamãe, mamãe
O exército é o único emprego
pra quem não tem nenhuma vocação, mulé

Mamãe, mamãe
Eu...

. . .


O que é que você quer
Que eu largue isso aqui?
É só me pedir
Soldado ou bancário
Garçom ou chofer

Eu paro de ser (de ser)
De ser cantor
É só dizer
Pra não morrer
Meu único amor

Eu largo o que sou
Vou ser zelador
De prédio qualquer
Sentado ao portão
O portão dos sonhos
Que você sonhou

Diga o que você quer
Se acaso não quiser
Feliz eu serei seu nada
Mas um nada de amor

Eu lavo e passo
Sirvo à mesa e faxino
Aprendo e te ensino
Posso até dirigir
Comprar um táxi
Só pra lhe servir

Deixo de ser coruja
Pra ser sua cotovia
E só viver de dia
Pra você ser feliz
Mas I love you . . .

. . .


Se você acha que tem pouca sorte
Se lhe preocupa a doença ou a morte
Se você sente receio do inferno
Do fogo eterno, de Deus, do mal

Eu sou estrela no abismo do espaço
O que eu quero é o que eu penso e o que eu faço
Onde eu tô não há bicho papão não, não
Eu vou sempre avante no nada infinito
Flamejando meu rock, o meu grito
Minha espada é a guitarra na mão

Se o que você quer em sua vida é só paz
Muitas doçuras, seu nome em cartaz
E fica arretado se o açúcar demora
E você chora, você reza
Você pede, você implora

Enquanto eu provo sempre o vinagre e o vinho
Eu quero é ter tentação no caminho
Pois o homem é o exercício que faz
Eu sei. Sei que o mais puro gosto do mel
É apenas defeito do fél
E que a guerra é produto da paz

O que eu como a prato pleno
Bem pode ser o seu veneno
Mas como vai você saber sem provar?

Se você acha o que eu digo fascista
Mista, simplista ou anti-socialista
Eu admito, você tá na pista
Eu sou ego, eu sou ista
Eu sou ego, eu sou ista
Eu sou egoísta, eu sou egoísta
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?

Sobre a cabeça os aviões
Sobre os meus pés os caminhões
Aponta . . .

. . .

O Trem das Sete

[No lyrics]

. . .


Eu já ultrapassei a barreira do som
Fiz o que pude às vezes fora do tom
Mas a semente que eu ajudei a plantar já nasceu
Eu vou
Eu vou m'embora apostando em vocês
Meu testamento deixou minha lucidez
Vocês vão ver um mundo bem melhor que o meu
Quando algum profeta vier lhe contar
Que o nosso sol tá prestes a se apagar
Mesmo que pareça que não há mais lugar

Vocês ainda têm
Vocês ainda têm
A velocidade da luz pra alcançar
Vocês ainda têm
Vocês ainda têm
A velocidade da luz pra alcançar
Então vai lá!

Além, depois dos velhos preconceitos morais
Dos calabouços, bruxas e temporais
Onde o passado transcendeu a um reinado de paz
Vocês serão o oposto dessa estupidez
Aventurando tentar outra vez
A geração da luz é a esperança no ar
Quando algum profeta vier lhe contar
Que o nosso sol tá prestes a se apagar
Mesmo que pareça que não há mais lugar

Vocês ainda têm
Vocês ainda têm
A velocidade da luz pra alcançar
Vocês ainda têm
Vocês ainda têm
A velocidade da luz pra alcançar

. . .


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