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Caetano Veloso




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Caetano Veloso Album


Velô (1984)
1984
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
Shy Moon (feat. Ritchie)
11.
Língua (feat. Elza Soares)
. . .


Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns bossais
Queria querer gritar setessentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da América Católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será será que será que será que
será?
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes Índios e padres
e bichas, negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnava
Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase
Ser indecente, mas tudo é muito ma
Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas
E nos gerai.
Será que apenas os Hermetismos Pascoais
E os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvaram dessas trevas
E nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo
Tins e bens e tais

. . .


Onde quer que você esteja
Em Marte ou Eldorado
Abra a janela e veja
O pulsar quase mudo
Abraço de anos-luz
Que nenhum sol aquece
E o oco escuro esquece

. . .


Walk down Portobello road to the sound of reggae
I'm alive
The age of gold, yes the age of
The age of old
The age of gold
The age of music is past
I hear them talk as I walk, yes I hear them talk
I hear they say
Expect the final blast
Walk down Portobello road to the sound of reggae
I'm alive

I'm alive and vivo, muito vivo, vivo, vivo
Feel the sound of music banging in my belly
Know that one day I must die
I'm alive
I'm alive and vivo muito vivo, vivo, vivo
In the Eletric Cinema or on the telly, telly, telly
Nine out of ten movie stars make me cry
I'm alive
And nine out of ten film stars make me cry
I'm alive

. . .


O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais

A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock'n'roll
As coisas migram e ele serve de farol

A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fulgaz
Do sexo das meninas

Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom

Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal

. . .


Ela comeu meu coração
Trincou, mordeu, mastigou, engoli
Comeu o meu
Ela comeu meu coraçã
Mascou, moeu, triturou, deglutiu
Comeu o meu
Ela comeu meu coraçãozinho de galinha num xinxim
Ai de mi
Ela comeu meu coraçãozão de leão naquele sonho medonh
E ainda me disse que é assim que se fa
Um grande poet
Uma loura tem que comer seu coraçã
Não, eu só quero ser um campeão da can
Um ídolo, um pateta, um mito da multidão
Mas ela não entendeu minha inten
Tragou, sorveu, degustou, ingeriu

. . .


Quem se salva nessa brasa, quem acende um fogo novo
Cruza a crise, colhe a calma
Alegra a alma desse povo
Vive em paz e harmonia
Abre a porta da alegria
Amor, meu amor, minha vida
Meu sonho, meu caso
Te amo, te adoro, contigo eu me caso
Agora aqui fora ou dentro de nós
Na dança, na lança, na tranca
Trocando carícias
Cantando ou calados
Curtindo delícias
Querendo, sabendo, vivendo em paz

. . .


Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão
Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês
Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói
Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és

REFRÃO
Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inceticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim

. . .


Jogo rápido, língua ligeira, olhos arregalados
Passam o meu e o seu nomes ligados
Por uma seta de Cupido, filho de Afrodite
O nosso amor é um coração colossal de grafitti
Nos flancos de um trem de metrô
A nossa carne é toda feita de flama e de fama
O rumor do nosso caso de amor
Não se confina a boatos, bares e boates
Conquista as estações, incendeia a praça escarlate
Inflama o aconchego dos lares
Todos os satélites se viram pelo mundo afora
Para transmitir o nosso som, a nossa luz, nossa hora
E nosso beijo que sempre começa na boca e só acaba na poça
Video Clip Futurista
Porque o mundo, ele é assim, ele é nossa conquista
Andy Warhol mil vezes na TV disse:
- "No gossips, Miss"
Darling, querida
Vê se te toca
Leva tua vida sem fuxico nem fofoca…

. . .


No que ela fez isso comigo
Era nunca mais ser seu amigo
Nem inimigo
Nunca mais namorado
Apaixonado
E eu e eu e eu sou
E eu e eu e eu sou

No que ela não quis o meu risco
Era soprar do olho esse cisco
Que eu já nem pisco
Não dar mais energia
Minha alegria
E eu e eu e eu dou
E eu e eu e eu dou

Feras lutam dentro da noite-normal
Todos os insetos, os do belo e os do mal
Anjos e demônios
O amor tomava conta de mim
Ela loura e negra, querubim e animal
Sobre os monstros da paixão, controle total
Burra, sábia, deusa, mulher, menino e mandarim
Mas se ela não quis meu sorvete
Por que gravá-la em vídeocassete
Jogar confete
Franquear minha guia
Ir à Bahia
E eu e eu e eu vou
E eu e eu e eu vou

. . .


Shy moon
Hiding in the haze
I can see your white face
Hope you can hear my tune
Shy moon
Why didn't you stop her
Don't you know I suffer
And you'll watch me cry soon
Shy moon
Glow through the pollution
Find me a solution
I'll wait on the high dune
Shy moon

. . .


(A)
Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódia
E um profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua
Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira
Fala!
E |--
S |D A7
T | Flor do Lácio Sambódromo
R |D B7
I |Lusamérica latim em pó
B | E7
I |O que quer
L |o que pode
H | Eb7/9
O |Esta língua
(3X)|--

(A)
Vamos atentar para a sintaxe paulista
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas
Cadê? Sejamos imperialistas
Vamos na velô da dicção choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Hollanda resgate
E Xeque-mate, explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Sejamos o lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em Ã
De coisa como rã e ímã...
Nomes de nomes como Scarlet Moon Chevalier
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé, Maria da Fé
Arrigo Barnabé
ESTRIBILHO
(A)
Incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Se você tem uma idéia incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o recôncavo, e o recôncavo, e o recôncavo
Meu medo!
3|--
V| (A)
E|A língua é minha Pátria
Z|E eu não tenho Pátria: tenho mátria
E|Eu quero frátria
S|--
(C/A G/A D/A D A)
Poesia concreta e prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
Será que ele está no Pão de Açúcar
Tá craude brô, você e tu lhe amo
Qué que'u faço, nego?
Bote ligeiro
Nós canto falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem,que falem.

. . .


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