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Caetano Veloso




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Caetano Veloso Album


Noites do Norte (2000)
2000
1.
2.
3.
4.
Zumbi
5.
Rock 'n' Raul
6.
Michelangelo Antonioni
7.
8.
9.
10.
11.
. . .


Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

. . .


A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.
Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte...
É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte.

. . .


Dia 13 de maio em Santo Amaro
Na Praça do Mercado
Os pretos celebravam
(Talvez hoje inda o façam)
O fim da escravidão
Da escravidão
O fim da escravidão

Tanta pindoba!
Lembro do aluá
Lembro da maniçoba
Foguetes no ar

. . .

Zumbi

[No lyrics]

. . .

Rock 'n' Raul

[No lyrics]

. . .

Michelangelo Antonioni

[No lyrics]

. . .


Meça a cabeça do boi:
Um CD colado à testa
Adornaram-no pra a festa
Do que foi. Desça à metade
Do que eternamente nasce:
Na face que é iridescente
Ó gente, dá-se a cidade

Abra a cabeça do boi:
Por trás do CD um moço
Nesse cabra uma serpente
Cobra lá dentro do osso
Posso não crer na verdade
Mas ela dobra comigo:
Abrigo em mim a cidade

Cantiga de boi é densa
Não se dança nem se entende
Doença, cura e repente
E desafio ao destino
Menino já tem saudade
Do que mal surgiu à frente:
Alma, CD, boi, cidade

Purificação do adro
O quadro produz-se ali
Luz o paralelepípedo
Límpido cristal de olhar
Grécia, Roma e Cristandade
O CD refrata o tempo –
– Templo-espaço da cidade

. . .


Pára de ondular, agora, cobra coral:

a fim de que eu copie as cores com que te adornas,

a fim de que eu faça um colar para dar à minha amada,

a fim de que tua beleza

teu langor

tua elegância

reinem sobre as cobras não corais

. . .


Ia
Te chamar mas não vou mais
O dia
Já vem vindo lá de trás
Da barra do mar da baía do Rio
Tão só
Vendo a curva de Copa
Cabana da melancolia
Ia
Te chamar mas meu peito está frio.

Ah
Os braços de Iemanjá
O mar
Quem há
De procurar seu lugar
Em Iá
Seu dia?

Num som
Surdo o mundo quebra em mim
Sem fim
Esse instante seria
Ia
Desistir mas agora eu te chamo aqui.

. . .


Meu Rio
Perto da favela do Muquiço
Eu menino já entendia isso
Um gosto de Susticau
Balé no Municipal
Quintino:
Um coreto
Entrevisto do passar do trem
Nós nos lembramos bem
Baianos, paraenses e pernambucanos:
Ar morno pardo parado
Mar pérola
Verde onda de cetim frio
Meu Rio
Longe da favela do Muquiço
Tudo no meu coração
Esperava o bom do som: João
Tom Jobim
Traçou por fim
Por sobre mim
Teu monte-céu
Teu próprio deus
Cidade
Vista do outro lado da baía
De ouro e fogo no findar do dia
Nas tardes daquele então
Te amei no meu coração
Te amo
Em silêncio
Daqui do Saco de São Francisco
Eu cobiçava o risco
Da vida
Nesses prédios todos, nessas ruas
Rapazes maus, moças nuas
O teu carnaval
É um vapor luzidio
E eu rio
Dentro da favela do Muquiço
Mangueira no coração
Guadalupe em mim é Fundação
Solidão
Maracanã
Samba-canção
Sem pai nem mãe
Sem nada meu
Meu Rio

. . .


Se o mundo for desabar sobre a sua cama
E o medo se aconchegar sob o seu lençol
E se você sem dormir
Tremer ao nascer do sol
Escute a voz de quem ama
Ela chega aí

Você pode estar tristíssimo no seu quarto
Que eu sempre terei meu jeito de consolar
É só ter alma de ouvir
E coração de escutar
Eu nunca me canso do uníssono com a vida

Eu sou
Sou seu sabiá
Não importa onde for
Vou te catar
Te vou cantar
Te vou, te vou, te vou, te dar

Eu sou
Sou seu sabiá
O que eu tenho eu te dou
Que tenho a dar?
Só tenho a voz
Cantar, cantar, cantar, cantar

. . .


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